terça-feira, 16 de abril de 2013

Crime cai 20% com união de vizinhos em BH

Fernanda Prata, Glória Mello, Cleide Lopes e Denise Prata foram
 pioneiras na criação do projeto no Bairro Caiçara,
Região Noroeste da capital
Pedro Rocha Franco - Estado de Minas 

Um ladrão tenta arrombar um carro. Vizinhos percebem a movimentação suspeita. De imediato, soa o primeiro apito e o barulho se estende por todo o bairro. Não é carnaval. Ao perceber o crime, moradores usam o instrumento para alertar a vizinhança e, por telefone, acionam imediatamente a unidade mais próxima da Polícia Militar. O assalto é frustrado e, se possível, o autor do roubo capturado. A cena vem se repetindo em várias regiões de Belo Horizonte, que aderiram ao programa Rede de Vizinhos Protegidos.

A comunidade atua como câmera viva na segurança e se une à polícia num modelo inédito de vigilância para combater a criminalidade. Lançado em 2004 na Região Noroeste, o programa se multiplicou para mais de 1 mil microregiões da capital – o mesmo bairro pode ter uma ou mais redes. Segundo estatísticas da PM, o projeto contribui em média para redução de cerca de 20% da criminalidade, podendo ultrapassar os 60%, dependendo do empenho da rede.

A estratégia do Polícia Militar era mobilizar os vizinhos e criar laços entre a comunidade. Grupos de quatro a seis casas são formados, de modo que uma

saiba a rotina da outra. As famílias criam códigos e outros métodos de segurança
para uso pelos integrantes da rede no alerta sobre pessoas suspeitas e possíveis crimes.

O projeto foi implantado pioneiramente na Rua Pássaro Negro, no Bairro Caiçara, na Região Noroeste. Apesar de se tratar de uma via pequena, com apenas quatro quarteirões, os problemas de violência se repetiam, principalmente por causa da proximidade com o Anel Rodoviário, o que facilitava a fuga de suspeitos. A mobilização da comunidade resulta no índice zero de crimes na região por mais de um ano.

“A sensação de segurança não se limita às proximidades das casas dos moradores que aderiram ao programa. Reflete-se também para outras ruas”, afirma o tenente-coronel Idzel Fagundes, comandante do 49º Batalhão de Polícia Militar e idealizador do Rede de Vizinhos Protegidos, quando ainda estava à frente da companhia responsável pelo policiamento do bairro. “Em dezembro de 2003, o governo instalou as câmeras do Olho Vivo no Centro da capital e a intenção era que os moradores funcionassem também como câmeras, mas vivas”, completa.

Sucesso

Com o sucesso, o projeto piloto estendeu-se para boa parte da capital, atingiu o interior de Minas Gerais e chegou a cidades de outros estados, como Santa Catarina e Roraima. “Ressaltadas certas peculiaridades, o problema de segurança é comum a todos”, afirma o tenente-coronel, que, depois de criar o projeto em BH, descobriu a existência de iniciativas semelhantes em outros países, como Argentina, Chile, Estados Unidos e Inglaterra.

Em feriados prolongados, a solidariedade entre vizinhos pode ser significativa para evitar dores de cabeça. A orientação da PM é para que os integrantes da rede sejam avisados e, com isso, fiquem de olho nas casas alheias e atentos a movimentações suspeitas durante o período de viagem de vizinhos.

Solução contra arrombadores

O número excessivo de roubos de veículos no Bairro Caiçara e a extensão do bairro levaram à criação de uma segunda rede no próprio bairro. Em 2007, moradores de um edifício procuraram a PM para criar soluções relacionadas aos repetidos arrombamentos de carros na garagem do prédio. Imediatamente, foi proposta a implantação do programa.

Atualmente, a rede tem 119 famílias cadastradas e são feitas reuniões a cada dois ou três meses. O combinado é que, caso alguém apite, os demais sigam. “Ouve-se um apitaço vindo de todos os lados. São mais de 15 quarteirões de uma vez, o que faz o criminoso perder a noção”, diz a advogada Denise Prata, responsável pela implantação do programa na região.

O alerta uníssono já serviu para espantar muitos criminosos e a consequência foi a redução dos delitos. “No início do ano, durante uma tempestade, uma mulher preferiu parar o carro e esperar a chuva passar. Pouco depois, um homem parou o carro logo atrás, desceu e, armado, começou a dar coronhadas no vidro do carro. Um borracheiro viu a cena e começou a apitar. Em menos de um minuto o barulho espantou o ladrão”, conta Denise.

Fonte: uai

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