terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Apito solidário espanta ladrões no interior

Nilson Cunha, um dos articuladores da
implantação do projeto em Itabira, 
comemora redução dos crimes violentos 
Experiência bem-sucedida em BH, Rede de Vizinhos Protegidos se estende pelo interior, em uma tentativa da população de barrar o crescimento da criminalidade.

Cidades pacatas, típicas do interior e livres do pesadelo da violência se tornaram meras lembranças de um tempo que insiste em não voltar. Problemas característicos de grandes centros estão cada vez mais presentes em municípios de médio e pequeno porte. Se antes deixar o portão aberto e passear com tranquilidade pelas ruas era uma cena do dia a dia, agora, investir em sistemas de segurança, como cercas elétricas e câmeras de vigilância, virou rotina. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) mostram que os crimes violentos estão concentrados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no Triângulo Mineiro, no Noroeste do estado e em municípios como Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Montes Claros e Pirapora (Norte de Minas). Para conter o avanço da criminalidade, ganha força uma experiência de sucesso na capital: a Rede de Vizinhos Protegidos. Os moradores do interior estão trocando a cadeira na porta da rua por apitos e muita atenção.

A fórmula é simples: diante de qualquer atitude suspeita, basta soprar o apito. Esse é o
instrumento que os vizinhos têm para informar uns aos outros de que algo não vai bem. O som de um é seguido por vários ao mesmo tempo. E, imediatamente, a Polícia Militar é chamada para conferir se a suspeita tem fundamento. A PM ainda não sabe quantos municípios já aderiram à rede, mas garante que ela está em expansão. Qualquer uma das 853 cidades mineiras pode participar. Para isso, basta que a comunidade procure o batalhão mais próximo. O assessor de imprensa da PM em Minas, capitão Gedir Rocha, diz que a tendência de redução da criminalidade é de 30% a 40%. “Se você começa a apitar avisando que há um estranho, gasta dinheiro? Não, gasta solidariedade, preocupação, zelo e amizade.”

Segundo ele, vários fatores contribuem hoje para a expansão da criminalidade para o eixo fora dos grandes centros urbanos. “Muitas cidades do interior não são interior, com grandes obras, muitas universidades e empresas chegando. Em municípios onde as pessoas se conheciam e se comunicavam, o crescimento está encerrando essas relações. Além disso, há a impunidade na qual as pessoas acreditam e o avanço do crack. Até mesmo a tradição de família, a responsabilidade em saber onde o filho está, com quem ele anda e se ele está na escola ou não acabou”, afirma o capitão. “ A rede dá certo porque a ideia é a retomada da sociedade do espaço que é seu, com a aglomeração de pessoas que querem a mesma coisa: rua limpa, prédios e casas que não sejam pichadas, ruas iluminadas, árvores podadas. E disso a sociedade toma conta”, acrescenta.

Primeiros frutos

Em Itabira, a 100 quilômetros de BH, o programa implantado no início do ano no Bairro 14 de Fevereiro também já colhe os primeiros frutos, com a redução de 36% dos crimes contra o patrimônio de janeiro a agosto, na comparação com o mesmo período de 2010. De 22 casos, passou-se para oito. Em 2008 e 2009, foram 17 e 21, respectivamente, também nos oito primeiros meses de cada ano. Em toda a cidade, cuja população é de aproximadamente 110 mil habitantes, foram registrados 287 arrombamentos a casas em 2007; 357 em 2008; 263 em 2009; 360 em 2010 e 231 em 2011. O número de homicídios, que chegou a 13 nos oito primeiros meses de 2007, está em sete este ano.

“A queda nos números demonstra que a rede é uma boa ferramenta no sentido de prevenção, mas só funciona onde há mobilização comunitária. A polícia não está transferindo responsabilidades, mas é importante que a população entenda seu papel no programa, pois ele não é uma brincadeira e deve ser levado muito seriamente”, afirma o comandante do 26º Batalhão, tenente-coronel Edvanio Rosa Carneiro, de Itabira. Ele ressalta que a rede é apenas uma das estratégias de prevenção, entre várias outras.

O operador de equipamentos Nilson Pereira Cunha, de 42 anos, um dos articuladores da implantação do programa no 14 de Fevereiro, comemora os resultados. “A maioria dos nossos moradores é de aposentados e o bairro está na entrada da cidade, o que traz um grande fluxo de pessoas. O marginal pode ser analfabeto, mas vai reconhecer a placa da PM nos portões. Ele pensará que só mora polícia ou que a PM está aqui. Ficará receoso e vai procurar outra área”, diz. 

Fonte: www.em.com.br

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